sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Halloween

Halloween na Irlanda
Aqui o Halloween parece ser algo a que as pessoas ligam muito. Nunca achei piada a esse dia, visto que não me está culturalmente ligado (acho até muito mal que se ande a festejar dias de Halloween nas escolas portuguesas, é uma absoluta perda de tempo e de identidade). Contudo, a Irlanda reserva-me uma realidade diferente acerca deste dia. As pessoas festejam mesmo o Halloween, incrustado nas profundas tradições do povo.

Convidaram-me para um festa este fim-de-semana. Disseram-me que levasse disfarce. Contrapus que não tinha nada disso. Disseram-me que fosse de preto. Contraponho que, de preto, só tenho umas calças e uma camisola que, dado o frio que tem feito, não será de todo opção para ter vestida seja em que sítio for.

Verdade seja dita. Por muito que aqui se festejem Halloweens, não sou pessoa que os aprecie. Já nem o Carnaval me dá pica. Por isso, o raio da ida à festa está em standby. O problema é que eu devia mesmo ir lá. Rai's parta lá mais às prioridades.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Voz de Rádio


Não sei que se passou hoje. Devia estar com voz de rádio. Uma jornalista mexicana felicita-me pela minha excelente voz no fim de uma chamada. Logo depois, uma norte-americana lembra-se de fazer a seguinte pergunta: Where are you from, with such a beautiful accent? Ao que lhe respondo, e ela: I fell in love once with a portuguese guy named Abel, para concluir logo de seguida and here I am falling in love with your voice.

Ele há com cada uma! Será que deva inscrever-me para locutor de rádio ou apresentador do Oceano Pacífico? E ainda, acerca de mulheres norte-americanas, não me vou esquecer da outra, cuja pergunta me deixou verdadeiramente estupefacto: Wow! Are you from New Zealand?

O pessoal aqui das Irlandas diz-me que tenho propensão para accent britânico. Pois bem. Isto anda bonito. Um dia levo um balão de hélio para o escritório e faço uma experiência mais radical para ver o que dizem.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Tiambién Too - III

Atender telefonemas em espanhol tem o seu quê de giro. Meia volta, e cá está o português pronto a mandar uma portunholada das grandes. Umas das maiores, ultimamente, foi a do Zé:

- Holá, buenas tiardes.

Ora toma lá em bom espanhuel que é p'ra aprenderes.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Em Tempo de Crise...

Remar contra o sistema, pá. Há que ignorar esta catadupa de pessoal armado em mantis kakôn anunciando a crise, e consumir. Consumir à força toda.

Hoje já foram 300€ ao ar em menos de meia hora. E podiam ter sido mais, se as calças não me fossem demasiado grandes e o casaco não tivesse defraudado as minhas expectativas quando o experimentei.

E depois, temos sempre a fobia às bichas (em bom português, que é para isso que as palavras servem), adquirida desde os tempos da Expo 98, para nos livrar de pagarmos mais uns 60 ou 70€ por um gorro e uma camisa. Largue-se e vá-se embora, que se faz tarde.

domingo, 26 de outubro de 2008

Bank Holiday

Amanhã é dia de não se fazer nada. De forma a evitar "pontes" e coisas do género, na Irlanda um feriado é automaticamente transferido para a segunda-feira respectiva, independentemente de calhar a um dia de fim-de-semana ou não. Chama-se a isso de Bank Holiday, como o de amanhã. Quase todos rejubilam com estes três dias seguidos de lazer. Quase. Porque eu, infelizmente, não tenho direito a gozar esse dia feriado. São as contingências do negócio. Resta-me entre escolher ser duplamente pago ou ter direito a um dia extra de férias.

Ou seja, pelo que me toca, perco este prazer efémero de ter três dias seguidos a desbundar sem nada fazer, mas, por outro lado, tenho o bónus de poder ter, se me apetecer, praticamente duas semanas de férias por ano. Ou então ganhar uns € valentes a mais, que dão sempre jeito. Mesmo sem bank holiday, dá para ficar satisfeito.

Enquanto Dura o Jazz

Não sei que dizer acerca dos festivais. Do Jazz de Cork, fui dar uma volta esta noite, com poucas expectativas. Eu próprio as atestei no meu post anterior. A primeira desilusão foi quando, no Chambers, nos deparámos com heavy metal. Francamente. Eu sempre ouvi ouvi música pesada. Mas digamos que não queria sair à noite e ouvir heavy metal num festival de jazz. Por essa, acabámos por deslocar-nos até ao Crane Lane. Um carreiro de formigas fantástico, quando o concerto já acabara. Bom, foi-se até ao Galagher's. Bom som, Rythm & Blues até fechar. Tirei umas fotos que gostava de postar para a noite do jazz, mas acabou por ser pouco satisfatório.

Em conclusão, achei a noite do festival de jazz fraca. Principalmente quando o jazz foi nulo. E depois, recebi um telefonema da tertúlia In Vino Veritas, em plena Latada de Coimbra. Todos eles mandando o seu abraço, ao qual retribuí, saudoso. Caramba, o que eu daria por ter estado lá esta noite.

sábado, 25 de outubro de 2008

Semana do Jazz

Cork Jazz Festival
O Guinness Jazz Festival 2008 instalou-se em Cork. Os bares estão apinhados de público sedento de festa. Falaram-me em doideira total nestes dias. Pela olhadela que dei nos folhetos informativos, também me pareceu que o cartaz não é nada mau. Decididamente, para amantes de jazz, vale a pena vir a esta festa.

Claro, há também a parte de que gostei menos. Nalguns bares, paga-se. Não é só a questão de se pagar, é a questão de quanto se paga. Os meus bolsos sempre foram um bocado relutantes em largar dinheiro a mais em concertos. Nesse aspecto, sou agarrado, ai isso sou.

Foi assim que, na noite passada, acabei por sair do trabalho, deambulando atento ao ambiente da McCurtain Street. As luzes do Gresham Metropole eram bonitas, sem dúvida, o Shelbourne tinha uma aparência diferente; as pessoas pareciam diferentes. Vários músicos tocam nas ruas, pintando-as das mais variadas formas jazzísticas. Isso não foi convidativo o suficiente para espreitar pelo menos um dos bares.

Pode ser que hoje o faça. Mas se fosse mesmo agora, a vontade era nula... não é que não goste de jazz. Muito pelo contrário. Mas acho que ando a ficar cada vez mais caseiro.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Este Fim de Semana

Estava a pensar em cozinhar algo português. Um prato de peixe, desde que não seja bacalhau. Algo especial. Mas não faço ideia do que poderia ser. Sugestões aguardam-se e, já agora, receitas...

O Fim do Uivo

Aparentemente, o Alcateia Teatro não aguentou o peso do meu abandono, e afundou-se no seu projecto. Tenho muita pena que tal acontecesse. Os meus pedidos, aquando da minha despedida, foram feitos no sentido de evitar algo previsível, que seria a dissolução do grupo. Mas as causas apanharam-me mais ou menos de surpresa. Supunha-se que fosse por outra coisa qualquer, tudo, menos devido à própria direcção da Associação de Artistas e Artesãos Oureenses.

Sei que a vida não está fácil para ninguém, e que o dinheiro não abunda. Mas deixar que estes fantásticos miúdos abandonem o barco nunca é positivo. Desejo sorte para as lides teatrais de todos os que para elas despertaram na Alcateia, e que tenham, no mínimo, mais afazeres dramáticos do que eu, que por cá me encontro sem nada de jeito.

Eu, na eventualidade de um regresso a Portugal, não deixarei de contactá-los. Sei bem o que valem.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

A Recessão na Irlanda

Recessão na Irlanda e Recessão em Portugal
Aproveito o comentário (em boa hora) do Sonhos Milka a um post meu sobre o aperto de cinto na Irlanda para apontar algo que desconhecia ter acontecido.

Então não é que o Ministro da Economia terá balbuciado que os portugueses estão bem, comparados aos irlandeses em risco de viverem um recessão nunca vista? O Ministro, desculpem-me a coloquialidade do termo, passa-se! O homem não está a ver que aqui, por mais recessão que haja, nunca se chegará ao estado miserável que vi quando deixei Portugal. E ainda nem se falava em crise como se fala hoje.

Quando alguém me perguntou, há uns dias, com um ligeiro ar de preocupação "então, pá, como estás, ouvi dizer que aí a Irlanda está a ficar muito mal?..." eu estranhei - "bom, pensei eu, com certeza confundiu Irlanda com Islândia, só pode ser isso". Afinal, houve má-língua a tentar salvar o seu próprio traseiro.

Desengane-se quem pense que aqui se vive miseravelmente e que se conta os trocos para poder pagar as despesas. É verdade que a situação é alarmante, que os medos têm razão de existir, que pode, eventualmente, haver uma recessão. Mas também é verdade que Portugal corre o mesmo risco. A diferença é só uma: enquanto uns encobrem a verdade, outros encaram-na e trabalham de forma a que a crise possa ser minimizada.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ainda o Apertar do Cinto

Hehehe... esta é típica de jovem irlandês (e não só de jovem). Eis uma reacção à política de contenção geral de despesas do estado irlandês, ao mesmo tempo que tenta obter receitas extra de outros produtos como álcool, tabaco e gasolina.

Não sei se terá sido ao folhear o Irish Examiner ou o Irish Independent. Um rapaz de alguns 17 ou 18 anos expressava a opinião dele acerca destas medidas ao jornal (farei uma tradução mais ou menos livre que resume o essencial, sem, no entanto, exagerar no que ele disse:

"Não estou assim muito informado, apenas li as manchetes dos jornais ontem. Acho que a mim prejudica-me particularmente nas despesas escolares. Mas o pior é mesmo o preço do vinho. Não consigo conformar-me com tal aumento."


Digam lá que não é giro ouvir reacções como esta. De uma coisa estou certo. Ao menos são honestos no que dizem e não se armam em falsos moralistas. Basta ler comentários de notícias em edições online portuguesas para vermos muitos desses na ocidental praia lusitana.

O Apertar do Cinto

Verifiquei hoje nos jornais irlandeses que afinal não é apenas o tabaco a aumentar. As medidas contra a crise são muitas. A que mais me chamou a atenção foi a redução de 10% nos salários dos políticos. Pergunto-me se esta medida será algum dia aceite em Portugal...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O Tabaco

Não sei até que ponto é verdade, mas ouvi dizer que o tabaco aqui na Irlanda vai aumentar para 10€ (!!!). Vai ter de ser desta que vou desistir!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Tiambién Too - II

Quando, em espanhol, se quer dizer:

"Isto é muito esquisito."

na realidade deve dizer-se, entre outras hipóteses

"Esto es muy extraño."

mas nunca

"Esto es muy esquisito."

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Língua Portuguesa

Aqui vai um belo soneto de Olavo Bilac, poeta brasileiro, acerca da nossa língua em vias de ser assassinada:

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Irónico, sem dúvida, o facto da nacionalidade do autor ser brasileira. Acordo linguístico? Não digo que não. Mas nunca de ânimo leve. De irresponsabilidades políticas estamos nós fartos, vá-se lá agora saber porque metem o bedelho numa língua de cunho cultural demasiado forte para ser "facilizada" desta forma.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Tiambién Too - I

Como tenho mandado umas gaffes bastante divertidas (isto de tentar falar inglês ou espanhol fluidamente tem o seu quê de complicado), aqui vai uma nova secção, a Tiambién Too!

"Se o senhor pretende..."

deve dizer-se, por exemplo, e entre outras expressões possíveis

"If you want to..."

mas nunca

"If you pretend..."

domingo, 5 de outubro de 2008

Dia da República


Foi com alguma curiosidade que espreitei hoje os jornais portugueses online para ver o que se dizia do Dia da Instauração da República. Parece que o nosso Presidente, Aníbal Cavaco Silva, finalmente se dignou a franzir as sobrancelhas à abordagem que os políticos portugueses fazem face à situação económica preocupante que se vive desde há muito tempo em Portugal.

Foi preciso que se instaurasse a crise nas entidades bancárias e nas bolsas internacionais para se chegar à conclusão de que, afinal, estamos mesmo em crise. Pudera. A malta que estava por baixo já a sentira há muito. E é fascinante ver quão habilidoso é o nosso Primeiro-Ministro e seus vassalos ao mentirem com quantos dentes têm e ao contornarem verdades que jamais deveriam ser contornadas.

Sócrates é, nunca deixou de o ser, um aldrabão. O mais brilhante exemplo do político-tipo português. Vive na preocupação de nos deixar despreocupados quanto à situação do país. Tem cá para mim que, de alguma forma, ostenta já comportamentos de mentiroso compulsivo. Aparentemente, finge que as declarações do Presidente da República não tiveram nada que ver consigo ou com os membros do governo. Oh sim, os portugueses têm de se esforçar, sua Excelência o PR esteve muito bem a discursar, pois pois pois...

Como republicano convicto, tenho a lamentar que a III República Portuguesa ande mergulhada nesta tristeza. Erga-se alguém capaz de, humildemente, afrontar o problema. Vamos lá ver é quem. E quando.

Marco Miliário I

Passaram seis meses desde que me mudei para a República da Irlanda. Seis meses em que a minha qualidade de vida melhorou substancialmente, por muitas saudades que tenha do meu país. Muito embora se fale aqui em crise, em caos, em recessão, os irlandeses não fazem ideia do que é viver sem condições. Portugal é muito bonito, mas viver lá é outra história.

Isto diz tudo sobre as minhas intenções de regressar. Para já, apenas as férias tornam as terras lusitanas apetecíveis. Além de que a experiência está a ser positiva. O tempo à experiência na Irlanda já passou. Ponhamos outro marco miliário de mais meio ano. E depois se verá...