terça-feira, 29 de abril de 2008

O Telefonema Inesperado


Telefonaram-me da Irlanda por causa do emprego. Foi uma chamada de tal modo inesperada que não percebia nada do que me estavam a dizer. Vi-me aflito e tudo. Pediam-me coisas, números, identificação, dados bancários e mais algo que acho que nunca compreendi... não estava nada fácil, quase me apeteceu desligar o telefone.

Só quando comecei a falar "então volte lá a repetir que não ouvi muito bem" é que me acalmei um bocado. E respondiam "dados disto e dados daquilo, número de disto e daquilo, ID com foto blablablá" e pronto, de certeza que não percebi tudo o que disseram, mas também não há-de ser nada. Tenho andado a falar demasiado português, é o que é. Estou em crer que me vou sentir (mais uma vez) às aranhas quando regressar à Irlanda.

Hmmm... e não é que faltam só 3 dias?

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dia de Compras

Este fim-de-semana levei com temperaturas que dificilmente encontrarei nos próximos tempos. A zona do Crato, bem como o centro histórico da vila, são paisagens realmente muito bonitas.

Hoje o sol não tem espreitado, e penso que vou iniciar as compras. Que venham os chouriços, os bacalhaus, os queijos da serra, os licores-beirãos! E já agora o álcool etílico, cuja inexistência na Irlanda me era completamente desconhecida. Não fosse a consulta ao Tugoirlandeses, ia ver-me e desejar-me para assar as belas das chouriças, uma vez na Irlanda.

Eu sei que fiz uma lista de coisas a levar para Cork, mas algo me diz que a perdi. Vou ter de improvisar nas compras hoje. Paciência.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Fim de Semana Musical


Este fim de semana reserva-me uma ida à formosa vila do Crato, onde tocarei com a Imperial Tertúlia In Vino Veritas num certame de tunas (AJAtunas). A imagem da tertúlia sempre tentou demarcar-se do rótulo "tunas" (a mim chateia-me que nos chamem de tal coisa), mas volta e meia calha-nos disto. É, no entanto, positivo irmos a uma terra tão bonita conhecer novas gentes e dar a conhecer a música coimbrã. E nos entretantos vou aproveitando para tocar o mais possível.

Levarei a guitarra para Cork. A Valentina (a italiana que vive na mesma casa que eu) fez questão de me relembrar que a trouxesse desta vez. Pode ser que façamos uns duetos, já que ela adora cantar - e pelo que já constatei tem uma voz muito boa. Mas tocar com o pessoal todo é coisa que não deverá acontecer nos tempos mais próximos. Portanto, é de aproveitar. Cheira-me que até vou pegar na minha capa e tudo...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Expressão Sonora


Hoje acordo com uma SMS do Tatu, na qual me pedia colaboração para ultimar algumas músicas do CD da Imperial Tertúlia In Vino Veritas. Não esqueço que me deixaram a secar até às nove da noite da última vez que se combinou estúdio para o dia seguinte. Ninguém apareceu e eu só não me chateei a sério porque não calhou.

O CD, depois de tantos anos a ser gravado e de tanto tempo a ser misturado e remisturado, merece vir à tona. Por isso, acho que se deve esforçar-se por levar o projecto avante, de mais a mais porque até está em fase muito avançada. Se alguém me deixa à espera outra vez... então aí é que não haverá perdão.

Gravar e misturar em estúdio não vai dar, com toda a certeza, para matar saudades de tocar em grupo. No entanto, tem de se preparar a arma contra a saudade desses mesmos momentos. Não me estou a ver na Irlanda a tocar música tradicional de Coimbra com uma ou duas dezenas de amigos. Bolas! Já deve ser difícil arrancar um canto em coro sem ser num jogo de futebol da Selecção! Digo eu, claro... posso estar enganado.

Mas era porreiro tocar umas musiquinhas amanhã, lá isso era. Para o leitor mais curioso, aqui segue um pequeno instrumental que costumamos cantar e tocar - ai, as serenatas!

(estou a ter problemas em parar o autostart em Mozilla Firefox e Opera; por esse motivo, as minhas desculpas)





domingo, 20 de abril de 2008

Impressão Sonora

As primeiras horas em Portugal foram interessantes. Digamos que o ouvido se terá habituado de tal maneira a ouvir o público anglófono, que me dava a impressão que ouvia tudo em inglês, embora não percebesse nada do que se dizia. No metro do Porto, onde várias pessoas vão e vêm, falam baixo e falam alto, com maior ou menor preocupação que um terceiro as ouça, todas as vogais e consoantes se iam misturando dando a impressão daquilo a que eu estava habituado.


Muito antes, no entanto, ainda no aeroporto, perguntara a uma simpática senhora do Turismo pela ligação mais fácil até Leiria, e percebera-a perfeitamente. Um senhor demasiado simpático pediu-me 1€ quando me viu trocar uma nota de 20€. Eu podia ter fingido que não percebia, mas seria com uma lata quase tão grande como a dele (afinal de contas, ele já me tinha ouvido falar em português). Apenas em público não conseguia descortinar as conversas em português. Jurei mesmo que ouvi muitas conversas na língua inglesa.

Para quem já sabia do meu tormento passado nos primeiros dias na Irlanda, não se imagine que fiquei assustado com sucedido, que a língua portuguesa se terá sumido da carola, ou que estou a arranjar qualquer fobia linguística fora do comum. Muito pelo contrário, o sucedido até me deixou aliviado. Fez-me compreender, de outro prisma, o meu tormento de ouvir inglês naqueles dias difíceis, principalmente em público. Quase tenho a certeza que, assim que chegar a Dublin, vou ter de novo a mesma estranha sensação. E até que é porreiro. Sentimo-nos vivos com isso.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ufa!

Não foi fácil fazer esta viagem. Estou, como disse uma vez para um señor da Guardia Civil Española, "todo roto". Autocarro, espera, avião, metro, espera, autocarro, carro. Do piorio. Sabendo que no meio destas horas todas dormi apenas duas (mal dormidas)... imagine-se como estou.

Já vi que terá sido um erro querer voar para o Porto, evitando Faro. A diferença era... partir de Dublin ou partir de Cork. Caso optasse por Cork - Faro, teria dormido, não teria esperado, gastaria menos dinheiro. Para a próxima, já sei.

Acho que vou dormir.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Em Dia de Partida

Esta noite vai ser mal passada. E a próxima também. Uma viagem a Portugal tem destas coisas, mormente quando me estou a preparar para passar uma noite praticamente em branco à espera do avião em Dublin - temo que ficar numa pousada seja dinheiro mal gasto.

Em Dia de Partida, ando a fazer o mesmo que fiz antes de chegar à Irlanda - conferir se está tudo na lista e garantir que não faltará nada na lista de compras a fazer em Portugal.

E este receio de ficar demasiado cansado, uma vez chegado a terras lusitanas, tem que ver com outro pormenor importante: queria ir fresquinho ao casamento do Tó, um brilhante companheiro da Imperial Tertúlia In Vino Veritas , onde se juntarão mais uns quantos tertúlios sedentos de convívio. Quando lhe disse que iria ser impossível ir ao seu casamento fiquei triste, mas estas coisas acontecem, para gáudio de ambos.

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Tormento do Poliglota


Tenho um gosto especial em falar bem várias línguas. Não é que saiba muitas, mas as que sei, tento dominá-las bem. A este título, nos primeiros dias na República da Irlanda assustei-me um pouco. A primeira situação dialógica, então, logo à saída do aeroporto, foi aterradora.

Quando o homem dos bilhetes me diz algo que só muito dificilmente, e após repetição, entendi, comecei a temer que o meu inglês pudesse ser bem pior do que à partida imaginava. Tremeliquei um, pouco, nervoso, quando ele começou, com uma prestabilidade assustadora (vamos lá ajudar o pobre rapaz, que ele é maçarico nisto), a fazer deambular o indicador pelo mapa de Dublin, explicando o caminho que havia de percorrer a pé para tomar o autocarro em direcção a Cork.

O meu cérebro só aproveitava o que via, como se os meus ouvidos fossem inúteis, deitando fora toda aquela informação estranha. Como uma criança de primária, lá ia o cérebro percebendo e repetindo consigo próprio os topónimos imprimidos no mapa e saídos dos lábios do senhor prestável.

Anotei na memória periclitante alguns nomes e algumas ruas. Respondi-lhe thanks, ele virou-se para outro passageiro sem perder tempo. Assim que desviou o olhar - pam! - fiquei com uma branca. Nunca me acontecera isto num exame! Olhei para o bilhete, onde havia um nome que acho que me era familiar. Terrível. Tinha de perguntar a alguém dentro do autocarro intermédio que nos leva do aeroporto até à paragem donde sai o autocarro directo para Cork.

Penso que o Também Tu já deve ter atestado sobre a simpatia da maior parte dos irlandeses. O casal idoso que tentou esclarecer as minhas dúvidas, no autocarro, embora simpático, não estava muito bem informado, até porque se convenceram que o meu destino era a estação de comboios. Tentava eu explicar-lhes que os comboios não eram o que eu desejava quando quatro ou cinco jovens, tão desorientadas quanto eu, mas com um bom inglês, conseguiram dar conta do recado com celeridade e eficiência. Pela pronúncia, deviam ser norte-americanas, pois a essas entendia-as eu muito bem. Acordámos que nos seguiríamos uns aos outros até ao raio do autocarro. No caminho, a pergunta do idoso irlandês: donde é que vem? Ao que eu respondo, resgatando-lhe um sorriso. Não passo de um estrangeiro desorientadinho de todo, penso eu imediatamente, e assim cismei até ao fim da viagem.

Quando me disseram que a pronúncia de Cork ainda é mais cerrada do que a de Dublin, fui aos arames: tou lixado. Nos pubs as jovens jeitosas metiam-se comigo perguntando se eu era francês que raio, francês? como é possível confundirem-me com um francês, já me confundiram com um francês em França, fiquei contente com isso, mas aqui...

Estava visto. O meu inglês sucks. Em Espanha tomavam-me por espanhol, em França tomavam-me por francês, na Irlanda era um estrangeiro desorientadinho de todo. Enfim, andava triste com isso, porque, como já disse acima, gosto de falar bem as línguas. Entretanto os dias passaram e comecei a ver os meus ouvidos a convidarem a língua inglesa a entrar. Do mal, o menos. Uma das moradoras na minha casa falou bem do meu inglês, no seguimento de uma conversa em que se mostrara admirada e extasiada com tudo o que eu dizia, razão mais do que suficiente para não ver nas palavras dela credibilidade por aí adiante.

Hoje gabaram-me o inglês numa última entrevista antes da minha viagem a Portugal. Ah, carago! Fiquei contente. Vindo de quem veio, caiu que nem ginjas. Claro que não está perfeito (digo-o eu, e sei-o muito bem), mas agora injectaram-me de moral para uns meses valentes a cair em cima da língua e atingir o meu objectivo: falá-la realmente bem!

Pint


A Pint é isto: um copo de cerveja de meio litro. Pronuncia-se [páint] e pode levar uma variedade imensa de marcas de cerveja. Rendi-me aos encantos da Guinness, essa belíssima sopa de cevada. Mas é possível encontrar outras marcas conhecidas em Portugal, como Carlsberg. Já as famigeradas Super Bock e Sagres só se acham quando passa algum navio da Marinha Portuguesa em Cork (ouvi umas histórias bem malucas sobre isso).

Adiante. É bem porreiro isto de beber por copos maiores. O drama da pint é só este: quando me habituar (acho que até já me habituei) a beber cerveja por estes gigantescos recipientes, deverei sentir-me especialmente insatisfeito com uma mini ou um fino à frente. Pese o facto de a cerveja na irlandesa dificilmente ter mais de 4 graus. Compreendo agora aqueles milhares irlandeses malucos que encontrei nas imediações do Estádio da Luz no dia do grandioso Portugal - Irlanda (3-0) para a Qualificação do Europeu de 96. Eles só não faziam ideia que o grau era ligeiramente maior ao que estavam habituados.


segunda-feira, 14 de abril de 2008

A Embaixada

Não há outra casa tão portuguesa em Cork como a - denominada pelos nossos compatriotas - Embaixada: 100% de portugueses vivem lá, com um bela de uma casa portuguesa (com certeza). A TV é nacional e permite-nos saber tudo o que se vai passando no país. Não perdi pitada de nada, desde a última polémica do nosso amigo Alberto João Jardim até, menos recentemente, àquele jogo que deixa o meu coração dividido e que fez correr tanta tinta e tanta lágrima: o Benfica - Académica. Sobre isso nada a dizer, não fiquei a pular de contente, pois o Benfica jogou muito mal, mas a Briosa colheu 3 pontos magníficos que nos deixam bem à vontade no campeonato.


Estando tão perto do sítio em que vivo, dirijo-me à Embaixada não raras vezes - qualquer dia tenho de pagar despesas de TV por cabo com eles. Desengane-se quem pensa que são muitos os que vivem ali. Apenas três, o Luís, o Pina e o Rolo. Diferentes entre si, mas cada um tão excelente como o outro. Reconheça-se que sem estes senhores a minha adaptação seria bem mais difícil. E amanhã lá estarei para chatear os portistas no jogo da Taça.

domingo, 13 de abril de 2008

Coisas de Casa

Conheci o meu senhorio ontem. O Pat é um típico irlandês: simpático, prestável. O resto do povo da casa também se safa bastante bem: uma coreana, uma italiana, um polaco, uma irlandesa e meia e meio irlandês (recuso-me a explicar, para já, qualquer aparente incongruência nesta enumeração). Bem pensando, sairam-me melhor que a encomenda.
Nem tudo são rosas. O meu quarto é secante. Não há um computador com que me distraia, uma TV, os livros que tenho para ler dão-me sono... nem sequer trouxe a viola para me distrair um pouco. De maneira que nos dias de semana faço uma bela ginástica anti-aborrecimento até que adormeça. Seguramente estarei mais bem preparado quando regressar da viagem a Portugal.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Confirma-se a Ida a Portugal

Verdade. Depois de uma entrevista concedida ontem, foi-me dado a saber que a formação inicia apenas no dia 5 de Maio. Isto significa que mergulharei num período de pré-férias - coisa estranha, hm?. Depois de uma terceira entrevista que concederei no dia 15, para falar de pormenores laborais, estarei de partida no dia 17 de Abril, regressando no dia 3 (falho a Queima das Fitas, rés-vés Campo d'Ourique).
Isto vai dar tempo para buscar mais algumas coisas que fazem falta por cá na Irlanda e outras que fazem falta a muita gente lusitana residente em Cork. A saber - bacalhau, licor beirão, chouricinhos caseiros, queijo da serra, tabaco baratinho.
Má notícia parece-me ser o facto de não poder fazer colónia este ano - as hipóteses estreitam-se demasiado... mas ainda não atirei a toalha ao chão.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Dia 9 ou Dia 10...

Sou pessoa para saber se ainda vou passar umas semanas a Portugal antes de iniciar actividade pela Irlanda. Pode acontecer que sim. Pode acontecer que comece imediatamente a trabalhar. Deus dirá o que vem a seguir...

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Recebido por um Tapete Verde


Finalmente sentei-me em frente a uma coisa parecida com um computador. Definitivamente, ter deixado o PC em Portugal deve ter sido um erro (claro que trouxe o maravilhoso teclado com cê de cedilha, esperando o que vinha). Deixei o PC, obviamente, bem destacado na to-buy-list.


Adiante. A Irlanda estende-se como um vasto tapete verde, salpicado por pretos corvos, graciosas ovelhas, pachorrentas vacas. Sem eucaliptos. Claro que faltam aqui as oliveiras, as vinhas, as searas.


Cork aninha-se no meio de um rio, pequenina. Ou antes, relativamente pequenina, que já me aconteceu ficar ligeiramente perdido nas suas ruas. De madrugada, a aragem vinda do rio corta-nos a face, gelidamente taciturna. Mas consegue-se ter quatro estaçoes com uma facilidade enorme no mesmo dia. Hoje de manhã estava a cair um estranho tipo de neve fluvial - agora faz sol, se bem que o frio continue. Ainda não tive oportunidade de fazer turismo, mas suspeito que não deve haver grande coisa para ver. Igrejas apenas.


Os famosos pubs, pelo menos ao fim-de-semana, são bem como se costuma dizer. Digamos que os irlandeses bebem como o raio e embebedam-se como o raio. Tive a oportunidade de dar-lhe bem nesse aspecto, mas a cerveja deles tem pouco grau, pelo que as quantidades exorbitantes de sopa de cevada ingerida fazem pouco efeito, a não ser que queiramos malhar com um shot goela abaixo. Isso não vai comigo. Fico-me por ser um bebedor conservador.


Tenho de tratar de coisas. Embora.


(Texto escrito com a espectacular ajuda do copy paste de caracteres portugueses achados nos emails que vou lendo - não encontrei o [o] com til - quem tiver um a mais que mo arranje)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Turismo Rodoviário


Para os que pensavam que eu iria aproveitar a pechincha do avião, desenganem-se. Vou de autocarro. Quero ver a terra irlandesa de bem perto, desde Dublin a Cork. Bem sei que posso arrepender-me de tal feito, mas nisto das aventuras, temos de ser como os adolescentes: só levando porradinha até doer bem no osso.

Por falar em doer no osso, ando a arranjar sono para amanhã. Vai doer, pois claro. Mas não consigo dormir. Chamar-lhe-ia ansiedade, mas - como diz o outro - não sinto cócegas nos pêlos do traseiro. Estranho, não é? Senti-lo-ei em pedra, quando chegar ao destino, seguramente. Hahaha. Até ao osso!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Também Tu, Bertie?



É hábito sermos confrontados com insinuações de corrupção por muito do que é notícia sobre a política nacional. Tendo em conta que desporto e política assumem, por vezes, uma conjectura similar na vida pública portuguesa, o efeito corrupção assume contornos bem mais vastos.

Foi para mim uma surpresa ouvir da demissão de Bertie Ahern, o primeiro-ministro irlandês, por alegado caso de corrupção já ocorrido nos anos 90. Na minha humilde ingenuidade, pensava que apenas os países latinos detinham exclusividade sobre estes actos. Interessante de tudo é reparar que, ao contrário deste país à beira-mar plantado, as acusações reservam uma consequência para os intervenientes.

Em Portugal, vozes de burro não chegam ao céu. De tal forma estamos habituados a acusações deste tipo, que a esmagadora maioria cai em saco roto. E quando não caem, foge-se ou arranja-se um qualquer asilo legal.

Não estou contente por saber de uma notícia destas acerca do país Esmeralda. Afinal de contas, desmistifica-se a seriedade de governantes que, ao contrário dos nossos, conseguiram fazer erguer um país e metê-lo na linha da frente em qualidade de vida e crescimento económico. Por outro lado, espero que a pena seja aplicada em conformidade. E que o Brasil não seja de fácil acesso para os corruptos irlandeses.

Despedidas III


Despedi-me finalmente do Alcateia Teatro. Agradeço a todos este ano e pouco que estivemos juntos. Espero encontrá-los de novo. Que muitos pastéis de nata povoem a salinha até cairem nos estômagos esfomeados dos actores, que não se partam mais garrafas, copos e cadeiras de rodas. Que a Alice faça a bela da festa quando chega ao nosso sítio (ainda posso chamá-lo nosso? posso?).

Que continuem a aprender como sempre o fizeram até hoje. Que não se desorientem, que me deixem pelo menos ver uma peçazinha, algo, para poder sentir-me bem com a Alcateia mais uma vez. Muitos lobos sejam apanhados, muitos lobos se safem. Não contem mais estórias de terror: assustam as pessoas! Mas se as contarem, ao menos lancem uns dados primeiro, evitando a cera das velas.

Eu sei que estive um pouco cabisbaixo durante o jantar. Foi um estranho torpor de quem se verá longe de algo que adora. Mas quero que saibam (dou comigo, aos poucos, a falar convosco, se isto é normal...) que, no fundo, no fundo, sorri sempre. Levo-vos e às fotos (ainda não li nada do que escreveram em álbum tão literário!) que me ofereceram, levo a vossa postura, a vossa voz, as vossas marcações cénicas, o vosso entusiasmo. Levo só um bocadinho, para que vocês nunca percam nada disto.

Até à vista! Muita merda!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Casinha sem Chaminés


O Rolo tem sido excepcional na preparação da minha ida para a Irlanda. Estando em Cork, vai-me pondo ao corrente de coisas que preciso de saber. No sábado passado, finalmente, conseguiu arranjar-me habitação.

A boa notícia é que se trata de uma casa no centro da cidade, pertinho de tudo, inclusive perto da casa do próprio Rolo. A outra notícia é boa e não é boa: não vou poder fumar dentro de casa - não há autorização da comunidade. Isto dá-me mais uma boa oportunidade para deixar o tabaco de vez. Mas bem que cairia, poder esfumaçar-me todo de vez em quando. Não há crise.

Em resumo, trata-se de uma casa onde já habita mais gente - parece-me que se tratam, também eles, de imigrantes. Pesando os problemas que se encontram com a habitação, de um modo geral, neste país, parece-me que tenho razões para estar satisfeito.

Há uns anos valentes que não vivia em comunidade com mais gente. Isto deixa-me, no mínimo, curioso. Faz-me lembrar a minha vivência em certas casas que habitei nos quase longínquos tempos de Coimbra. A mística de sítios como a ilustre Mansão do 18, o 24 da Moeda, ou de casas que conheci muito bem, como a Pensão In Vino, Mansão do Olimpo, Repúblicas da Ay-ó-Linda e dos Fantasmas, não se dará nesta casa, imagino. Mas que outro ambiente substituirá o saudoso 18, essa casa na Rua de São Salvador agora chicoteada pelo progresso e mantida apenas sob o espectro da fachada? Ficarei desalentado? Acabarei vergado humildemente à sensaboria?

Good Morning, Mr...


Achamos graça aos r's da língua inglesa. Aqueles sons em que temos de enrolar a língua de uma maneira esquisita. Já acháramos graça também aos r's da língua francesa. Faríngeos, profundos, anedóticos. Eu e os R's sempre tivemos uma relação de profunda cumplicidade. Gosto de utilizar vários, desde o simples até ao múltiplo, passando pelo faríngeo-uvular típico de algumas zonas do Brasil.

Tenho a sensação que os falantes da língua inglesa, muito embora tenham um [r] engraçado, devem ter alguma dificuldade para pronunciar os nossos [r]. Aí reside um dos problemas. Dos meus quatro nomes, apenas um não tem um [r] desses, e trata-se do nome de que eu menos gosto, ou antes, pelo qual nunca fui tratado.

Ser chamado por "Roooey" à inglesa é coisa de me fazer impressão. Talvez me apresente como "Henreakesh". A questão: Good Morning Mr. Rooey ou Good Morning Mr. Henreakesh?