terça-feira, 15 de abril de 2008

O Tormento do Poliglota


Tenho um gosto especial em falar bem várias línguas. Não é que saiba muitas, mas as que sei, tento dominá-las bem. A este título, nos primeiros dias na República da Irlanda assustei-me um pouco. A primeira situação dialógica, então, logo à saída do aeroporto, foi aterradora.

Quando o homem dos bilhetes me diz algo que só muito dificilmente, e após repetição, entendi, comecei a temer que o meu inglês pudesse ser bem pior do que à partida imaginava. Tremeliquei um, pouco, nervoso, quando ele começou, com uma prestabilidade assustadora (vamos lá ajudar o pobre rapaz, que ele é maçarico nisto), a fazer deambular o indicador pelo mapa de Dublin, explicando o caminho que havia de percorrer a pé para tomar o autocarro em direcção a Cork.

O meu cérebro só aproveitava o que via, como se os meus ouvidos fossem inúteis, deitando fora toda aquela informação estranha. Como uma criança de primária, lá ia o cérebro percebendo e repetindo consigo próprio os topónimos imprimidos no mapa e saídos dos lábios do senhor prestável.

Anotei na memória periclitante alguns nomes e algumas ruas. Respondi-lhe thanks, ele virou-se para outro passageiro sem perder tempo. Assim que desviou o olhar - pam! - fiquei com uma branca. Nunca me acontecera isto num exame! Olhei para o bilhete, onde havia um nome que acho que me era familiar. Terrível. Tinha de perguntar a alguém dentro do autocarro intermédio que nos leva do aeroporto até à paragem donde sai o autocarro directo para Cork.

Penso que o Também Tu já deve ter atestado sobre a simpatia da maior parte dos irlandeses. O casal idoso que tentou esclarecer as minhas dúvidas, no autocarro, embora simpático, não estava muito bem informado, até porque se convenceram que o meu destino era a estação de comboios. Tentava eu explicar-lhes que os comboios não eram o que eu desejava quando quatro ou cinco jovens, tão desorientadas quanto eu, mas com um bom inglês, conseguiram dar conta do recado com celeridade e eficiência. Pela pronúncia, deviam ser norte-americanas, pois a essas entendia-as eu muito bem. Acordámos que nos seguiríamos uns aos outros até ao raio do autocarro. No caminho, a pergunta do idoso irlandês: donde é que vem? Ao que eu respondo, resgatando-lhe um sorriso. Não passo de um estrangeiro desorientadinho de todo, penso eu imediatamente, e assim cismei até ao fim da viagem.

Quando me disseram que a pronúncia de Cork ainda é mais cerrada do que a de Dublin, fui aos arames: tou lixado. Nos pubs as jovens jeitosas metiam-se comigo perguntando se eu era francês que raio, francês? como é possível confundirem-me com um francês, já me confundiram com um francês em França, fiquei contente com isso, mas aqui...

Estava visto. O meu inglês sucks. Em Espanha tomavam-me por espanhol, em França tomavam-me por francês, na Irlanda era um estrangeiro desorientadinho de todo. Enfim, andava triste com isso, porque, como já disse acima, gosto de falar bem as línguas. Entretanto os dias passaram e comecei a ver os meus ouvidos a convidarem a língua inglesa a entrar. Do mal, o menos. Uma das moradoras na minha casa falou bem do meu inglês, no seguimento de uma conversa em que se mostrara admirada e extasiada com tudo o que eu dizia, razão mais do que suficiente para não ver nas palavras dela credibilidade por aí adiante.

Hoje gabaram-me o inglês numa última entrevista antes da minha viagem a Portugal. Ah, carago! Fiquei contente. Vindo de quem veio, caiu que nem ginjas. Claro que não está perfeito (digo-o eu, e sei-o muito bem), mas agora injectaram-me de moral para uns meses valentes a cair em cima da língua e atingir o meu objectivo: falá-la realmente bem!

1 comentário:

Ringo disse...

Oh diabo ! - è nessas alturas que se deve rezar à grande alicinha :D

Fora de gozo, falo com o resto do pessoal na 5ª e digo qqr coisa !

Tenho de começar a ca vir regularmente, ja que nunca o apanho p'lo msn ... Heit .