Estava a terminar um Pandemic a solo para me ir entretendo quando ele abriu a porta. Meio torto, cambaleando ligeiramente. How's it going, Kay? respondeu-me que bem, mas a cara não enganava. Parecia triste. Sentou-se à minha frente, perguntou que jogo era e, terminada a conversa de circunstância, liberta um I'm drunk. So sorry.
O Kay é o coreano que vive em minha casa. Instalou-se aqui há cerca de dois meses, mas está na Irlanda há uns sete. Veio para aprender inglês, como muitos da sua nacionalidade fazem, inclusive a Hosun, coreana que também por cá vive. Mas expressar-se em inglês é, para ele, um verdadeiro suplício. Confesso que não é fácil ouvi-lo sem tentar adivinhar em voz alta o fim das frases que se mantêm inacabadas à falta de vocabulário.
Naquele dia, o Kay meteu-me pena. Com uma lágrima a teimar permanecer no canto do olho, desabafou-me que pensava em ir-se embora porque não conseguia estar aqui bem. As pessoas são diferentes, a cultura é diferente, o trabalho dele não é o melhor do mundo e sente-se misérrimo. O inglês dele nunca melhorou muito. Não é segredo nenhum que os povos asiáticos têm extrema dificuldade para aprenderem línguas europeias, na mesma medida em que os ocidentais se vêem à rasca para encetarem uma conversação básica em mandarim ou coreano. Tentei injectar-lhe moral, mas não sei se ele vai permanecer por cá muito tempo. Vejo-o muito triste, ultimamente. Sente-se só.
No dia seguinte, proponho-me beber duas garrafas de vinho com o Lukasz, polaco aqui da casa. A meio da segunda, balbucia que a sua viagem, no dia 23 de Janeiro, à Polónia, poderá ser uma viagem sem retorno.
O Lukasz é exactamente o oposto do Kay. Está há cinco anos na Irlanda, sem problemas de adaptação, com amigos, fala inglês pelos cotovelos (até apanhou Cork accent) e tem uma amiga especial há uns meses que o faz andar feliz da vida. Pergunto-lhe o porquê. Responde-me que está farto da Irlanda, que foi já tempo demais. Acima de tudo, que tem saudade do país dele. Que pensa em pedir um empréstimo para se meter num negócio. Em ano de crise? Contraponho eu - tenho conhecimentos com pessoal de bancos polacos, responde ele. Como queiras, digo. E dou com ele pensativo nas suas palavras, calado, meditabundo, olhando fixamente para a parede branca.
Não sei se estas coisas são depressão de Inverno ou não. Diria que sim. Talvez um outro Inverno na Irlanda me faça ter a certeza.
O Kay é o coreano que vive em minha casa. Instalou-se aqui há cerca de dois meses, mas está na Irlanda há uns sete. Veio para aprender inglês, como muitos da sua nacionalidade fazem, inclusive a Hosun, coreana que também por cá vive. Mas expressar-se em inglês é, para ele, um verdadeiro suplício. Confesso que não é fácil ouvi-lo sem tentar adivinhar em voz alta o fim das frases que se mantêm inacabadas à falta de vocabulário.
Naquele dia, o Kay meteu-me pena. Com uma lágrima a teimar permanecer no canto do olho, desabafou-me que pensava em ir-se embora porque não conseguia estar aqui bem. As pessoas são diferentes, a cultura é diferente, o trabalho dele não é o melhor do mundo e sente-se misérrimo. O inglês dele nunca melhorou muito. Não é segredo nenhum que os povos asiáticos têm extrema dificuldade para aprenderem línguas europeias, na mesma medida em que os ocidentais se vêem à rasca para encetarem uma conversação básica em mandarim ou coreano. Tentei injectar-lhe moral, mas não sei se ele vai permanecer por cá muito tempo. Vejo-o muito triste, ultimamente. Sente-se só.
No dia seguinte, proponho-me beber duas garrafas de vinho com o Lukasz, polaco aqui da casa. A meio da segunda, balbucia que a sua viagem, no dia 23 de Janeiro, à Polónia, poderá ser uma viagem sem retorno.
O Lukasz é exactamente o oposto do Kay. Está há cinco anos na Irlanda, sem problemas de adaptação, com amigos, fala inglês pelos cotovelos (até apanhou Cork accent) e tem uma amiga especial há uns meses que o faz andar feliz da vida. Pergunto-lhe o porquê. Responde-me que está farto da Irlanda, que foi já tempo demais. Acima de tudo, que tem saudade do país dele. Que pensa em pedir um empréstimo para se meter num negócio. Em ano de crise? Contraponho eu - tenho conhecimentos com pessoal de bancos polacos, responde ele. Como queiras, digo. E dou com ele pensativo nas suas palavras, calado, meditabundo, olhando fixamente para a parede branca.
Não sei se estas coisas são depressão de Inverno ou não. Diria que sim. Talvez um outro Inverno na Irlanda me faça ter a certeza.
2 comentários:
Por vezes, quase que por coincidência, aparecem na nossa vida pessoas/momentos que trazem consigo a tristeza. E o mais engraçado, é que vem tudo de uma vez...
O importante é não nos deixarmos afectar por isso!
A escolha é de cada um, temos é que ter uma vida positiva!
Não somos todos iguais, cada um tem as suas razões e há quem desista e se arrependa... ou não.
Por aqui na Suíça a taxa de depressão e suicídio dispara durante os dias frios de Inverno.
Sonhos Milka
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